Dados do Trabalho

Título

Indução de tolerância oral a alimentos: o que esperar da etapa de dessensibilização ?

Resumo

A prevalência da alergia alimentar vem aumentando no mundo e estudos mais recentes têm demonstrado que a tolerância espontânea tem ficado cada vez mais tardia. Hipótese: A imunoterapia oral (ITO) é um tratamento eficaz, porém está associada a uma alta taxa de reações adversas. O objetivo foi caracterizar o perfil de pacientes e descrever os desfechos da dessensibilização em um serviço de referência em ITO.
Estudo descritivo prospectivo com informações coletadas de prontuários de pacientes submetidos a ITO a leite de vaca (LV) entre 2015 e 2024. A ITO foi realizada em 4 fases: primeira fase com o leite diluído (12 ingestas /dia), segunda com leite puro até 15 ml/hora (12 ingestas dia), terceira fase 15ml/hora até 180 ml/dia (número de ingestas /dia variado) e quarta fase com manutenção diária de no mínimo 120 ml de leite. Através de questionários e informações coletadas em registros médicos caracterizou-se: o perfil dos pacientes, as reações adversas e o desfecho do tratamento.
40 pacientes (20M:20F) iniciaram o tratamento de ITO ao LV em média aos 8,4 anos. Todos os pacientes tiveram anafilaxia prévia, 36 pacientes tinham pelo menos uma comorbidade alérgica sendo 17,5% com outra alergia alimentar associada e nenhum com diagnóstico prévio de esofagite eosinofílica (EoE). As reações adversas ocorreram em 82,5% pacientes, sendo mais frequente na fase 4 (55% das vezes), seguido da fase 2, 3 e 1, com destaque as urticárias e vômitos. As reações anafiláticas ocorreram em 14 pacientes aparecendo com maior frequência na fase 4. Seis pacientes não conseguiram terminar o tratamento suspendendo a ITO (2 pacientes pararam na fase 2, 3 na fase 3, 1 na fase 4). Além disso, 14 evoluíram com EoE, destes, 4 descontinuaram a ITO.
A ITO é um tratamento inovador mas com alta taxa de eventos adversos, portanto é necessária a presença do especialista, um local apropriado, um acompanhamento minucioso a longo prazo e acima de tudo a decisão compartilhada entre pais, médico e paciente.